Editorial para a Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia
A publicação de um trabalho científico é sempre uma necessidade interior. Resulta de uma forma solidária de estar, em que a busca e o seu resultado são partilhados com a comunidade de pessoas interessadas num tema. É inerente à prática da Medicina, e é graças a isso que hoje os cidadãos vivem mais e vêem melhor. Mas um trabalho científico implica tempo gasto com pensamento, observação e análise. Dado o limite temporal de cada dia, tem que ser subtraído ao descanso ou à produtividade, por mais contas que se façam. Por isso os oftalmologistas, actualmente a viver sob o sufoco de uma pressão, insaciável, pelo aumento do número de actos médicos, são na sua generalidade seres abnegados. Trabalham mais horas seguidas por dia que a maioria da população, executam técnicas difíceis em condições complicadas, aguentam a pressão psicológica de quem mais os devia defender, suportam as culpas da ineficácia do sistema, escutam, com boa cara, elucubrações sobre a maneira de reduzir o número de consultas ou cirurgias em espera, e mesmo assim, arranjam maneira de furtar ao seu tempo mais íntimo, espaço para pensar e para melhorar. A actualização constante dos oftalmologistas, de que beneficiam todos os sistemas e a população, é feita à custa do seu mérito e do seu sacrifício. É tempo de o reconhecer e de o apoiar. O tempo gasto com pensamento é um tempo indispensável ao correcto exercício da arte, de que em última analise é principal beneficiária a população, e que tem de ser contemplado nos horários dos Médicos. Investigação, meditação e publicação. Três palavras que nos preocupam, mas de que, aparentemente, não sabe nem cura o Pretor.